Amores Materialistas: um desafio à lógica afetiva
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- Criado em Terça, 30 Setembro 2025 20:22
É um soco no estômago. A certeza incômoda de que, sob o véu do romantismo, os amores podem ser tratados como investimentos. O sentimento, nessa equação, reduz-se a uma subjetividade ingênua, um sonho idealista. Mas e quando o seu "boy unicórnio" - aquele ser aparentemente ideal, maravilhoso, perfeito -, foi literalmente moldado para ser exatamente isso?
Quando há um investimento consciente para se tornar superextraordinário? E, a pergunta que corta como uma faca: quando o amor, puro e simples, é suficiente? Este é o dilema central que corrói a protagonista de *Amores Materialistas*, longa-metragem de Celine Song, e que ecoa como um lamento moderno.
Na trama, que está disponível no Prime Video, Dakota Johnson vive Lucy, uma casamenteira com um senso apuradíssimo para unir casais considerados ideais. É inegável: Johnson, frequentemente rotulada pela aura de "nepobaby" e com uma carreira de altos e baixos, aqui entrega uma performance que, para alguns, pode soar canastrona em sua contenção excessiva. Sua atuação, por vezes, carece da profundidade que o papel exige.
No entanto, o filme é salvo (e como!) pelas atuações ao seu redor. Em um dos casamentos que orquestra, Lucy cruza com o irmão da noiva, interpretado por Pedro Pascal. Ele é a personificação do "unicórnio": um homem do mercado financeiro, abastado, de beleza incontestável, alto, intelectualmente afiado e de uma simpatia desarmante. Pascal, assim como Chris Evans, também em participação igualmente cativante, simplesmente dão um show de carisma e química. Eles elevam a película e trazem a autenticidade que a narrativa exige.
O interesse genuíno que o personagem de Pascal demonstra por Lucy é recebido não com euforia, mas com uma desconfiança cética. A visão de mundo experiente e calculista dela não computa como alguém daquela estatura poderia se interessar por uma mulher de 35 anos, de um contexto social mais modesto, que se considera dentro de uma média nada espetacular.
É aqui que a tese materialista é desafiada. Pascal, no papel de Harry, tenta convencê-la de que o capital pessoal vai muito além de bens materiais e atributos físicos. Ele aponta para um novo tipo de patrimônio: a inteligência emocional, a bagagem de vida, a maturidade. A narrativa, então, navega por este campo minado. A descoberta de que o "unicórnio" talvez não seja um produto espontâneo, mas um projeto meticulosamente construído, adiciona mais uma camada de complexidade.
A questão que fica, e que Lucy precisa encarar, é justamente a que abre este texto: em um mundo que precifica tudo, o amor despretensioso e suficiente ainda tem lugar? Ou estamos todos, de alguma forma, traçando estratégias e calculando retornos emocionais? Ufa, o filme tem resposta e sugere: pode ser o investimento mais arriscado e, potencialmente, o mais recompensador de todos. Apesar das ressalvas com sua protagonista, o filme vale a pena pela pergunta perturbadora que nos faz pensar.

Fonte: divulgação




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