"Homem com H": um Ney em carne, osso, talento, voz e alma

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Homem com H é mais que uma cinebiografia, dirigido e roteirizado por Esmir Filho. É um mergulho delicado, explosivo e necessário na trajetória de Ney Matogrosso, um dos artistas mais ousados, livres e geniais da música brasileira. Nascido em 1941, Ney de Souza Pereira, filho de militar, morou em várias cidades, tentou a carreira militar, foi vendedor de artesanato, cantor de coral.A virada de chave - para a vida e para a MPB -, veio quando foi convidado a ser vocalista dos Secos & Molhados, entre 1973 e 1974.

Ney Matogrosso e Jesuíta Barbosa. O ator emagreceu 12 quilos e fez aulas de dança. Na telona, o artista não interpreta, ele incorpora, a entrega é impressionante a  cada cena Foto: reprodução

 

O filme é dirigido com sensibilidade e ritmo intenso, dosa memória afetiva e potência artística com a mesma maestria com que Ney habita o palco. Protagonizado por Jesuíta Barbosa, abro os parênteses para destacar a atuação perfeita. Perdi o fôlego por diversas vezes com o ator, mas quando canta Rosa de Hiroshima, poema de Vinicius de Moraes eternizado pela banda, o filme te fisga de vez: poesia, política, dores e beleza, tudo ao mesmo tempo agora.

 

Jullio Reis interpreta o inesquecível Cazuza (1958-1990) Foto: reprodução

 

Impossível ter saído do Cine Alquimia ilesa. Homem com H é sobre feridas que nunca cicatrizaram totalmente: a homofobia, o olhar duro do pai, a solidão de quem ousou ser livre em tempos para lá de hostis. Mas também é sobre amor. O amor da mãe, firme e presente aos 103 anos. É sobre os amores que viraram parcerias. Os amigos que viraram lenda, mas foram dirigidos artisticamente por Ney, como Cazuza.

O filme não entrega apenas uma história. E ainda deixa claro que o artista acompanhou todo o roteiro, acredito que por isso talvez tenha tanta alma. O filme é atravessado por luzes, mas não esconde as sombras. E o que chega à tela é a integridade de um homem que não pediu licença para existir.

 

Bruno Montaleone interpreta Marco de Maria, ex-companheiro de Ney, que morreu em decorrência da AIDS. O cantor viveu 13 anos com o médico Foto: reprodução

 

Corra para assistir! E se permita sair do Alquimia sem fôlego, com a certeza de que o Brasil teve o privilégio de ser palco desse artista inclassificável.

NEY, com todas as letras em caps lock.